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A fundação

Atualizado: 6 de nov. de 2024

O Syndicato dos Bancários de Santa Catharina, foi fundado na sexta-feira, 24 de maio de 1935, em Florianópolis. Nos sete anos seguintes, seria liderado por um funcionário do Banco Nacional do Comércio (BNC), João Cândido Rodrigues. Seu nome, hoje estampado em letras garrafais no prédio da sede da entidade, ficou esquecido por muito tempo. Da assembleia de criação restou para a posteridade apenas a referência numa ata de 1942, encontrada nos arquivos da Delegacia Regional do Trabalho. Os jornais da época não trouxeram uma linha com a notícia.


O fundador: João Cândido Rodrigues em 1925 (acima) com os colegas de banco, (abaixo) seu título de eleitor


João Cândido viveu até 1988, numa casa de típica arquitetura açoriana, na rua General Bittencourt. Sua mulher, dona Laura, nasceu em 1901 e conserva com cuidado as fotos dos anos 30, raras referências de uma história que o tempo apagou. Dos seis filhos, Marilde Rodrigues é quem traz à luz da memória as lembranças - narradas com o entusiasmo de uma criança sexagenária.


Dona Marilde conta que seu pai ingressou no BNC aos 21 anos, como escriturário. Trabalhou por longo tempo na carteira de cobrança e chegou à função de contador. O BNC era um banco privado, que depois viria a se transformar no Sulbrasileiro, que faliu, foi reerguido pelo Estado como Meridional e em 1995 estava na lista de empresas a serem privatizadas pelo governo Fernando Henrique Cardoso. O BNC funcionava das 9h às 18h, como todos os bancos, e os trabalhadores tinham 1h30 de almoço. Não era raro que o trabalho se prorrogasse por 16 horas diárias, principalmente para os serviços de escrituração manual.


João Cândido tinha que levar para casa as "escritas" para fazer a bico de pena - naquela letra de bancário que fazia sucesso muito antes do nascimento do computador. Os copiadores a gelatina foram aparecer só na década de 30, quando então foi permitida a escrituração a máquina.


Para ele, "o bom mesmo era ser funcionário do governo, porque funcionário particular é muito explorado". Quando sobrava tempo após o trabalho, lia para os filhos as histórias de Monteiro Lobato - livros considerados subversivos para a censura getulista. Mas nada havia de heroico no comportamento de João Cândido, manezinho de São José.


As notícias chegavam pelo rádio que comprara em 1934. A tensão crescia na Europa, com a ascensão da intolerância do fascismo italiano e do nazismo alemão. No Brasil, Getúlio Vargas dava seguimento à sua política de regulamentar a vida profissional e estabelecer regras para a representação de interesses de patrões e empregados. Em 1933, os bancários conquistaram a definição do limite da jornada formal de trabalho em seis horas. As primeiras medidas atrelando os sindicatos à estrutura do Estado e definindo regras para as relações entre capital e trabalho foram recebidas com euforia pelos bancários de Santa Catarina.


João Cândido estava sem dúvida entusiasmado com Getúlio quando aceitou ser o primeiro presidente do Sindicato dos Bancários de Santa Catarina. "Meu pai era um liberal", conta Marilde Rodrigues. Essas idéias se traduziam no apoio à carreira política de Nereu Ramos, que fora nomeado governador de Santa Catarina. A Revolução de 30 havia rearranjado o cenário político dando peso a atores marginalizados pela hegemonia anterior das oligarquias de São Paulo e Minas Gerais - ou seja, novas oligarquias disputavam sua fatia de poder.


1938 - em 8 de julho a polícia mata Lampião e Maria Bonita,  na Fazenda dos Angicos


A primeira década de vida do Sindicato seria marcada menos pela ação política que pela busca de integração e divertimento entre os bancários. Os trabalhadores das poucas instituições financeiras com agências na cidade se reuniam periodicamente na sala do primeiro andar do sobrado número 21 da rua dos Ilhéus, esquina Anita Garibaldi. A primeira sede do sindicato, onde hoje funciona a agência Besc Ilhéus, vizinhava com a venda do seu Lauro, do lado de cima, e com outro sobrado, embaixo. No térreo, ficava a Crédito Mútuo Predial (uma empresa de financiamentos habitacionais) e, no primeiro andar, o consultório odontológico de Gustavo Mello. Na sala ao lado, entre grunhidos provocados pelo boticão, os bancários discutiam reivindicações para a categoria, política e economia no mundo transtornado pela Segunda Guerra Mundial (1939-45) e no país dominado pela ditadura do Estado Novo. Mas, sobretudo, jogavam dominó e gozavam a vida.


João Cândido Rodrigues presidiu a entidade de 13 de novembro de 1935 - data do reconhecimento oficial pelo Ministério do Trabalho - até meados de 1942. Nunca gozou de plena liberação para a atividade sindical, ou seja, sempre precisou conjugar a ação política e o trabalho na agência. Quando voltou a dedicar-se apenas ao BNC, foi constantemente interrompido por problemas de saúde. De frágil constituição física, Rodrigues padeceria de males incontáveis até sua morte. O que não o impediu de trabalhar bem quando podia. Foi premiado com uma placa de prata e um bônus de Cr$ 4 mil, quando se aposentou, depois de 30 anos de serviço. Mas ficou magoado com o banco. Ganhava tão pouco que dizia que ia para a porta do Sulbrasileiro pedir esmolas. Quando ia receber os benefícios, levava três notas de Cr$ 1,00 para não ter que trazer os Cr$ 297,00 em trocados.

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