Os bancos estão prescindindo, cada vez mais, de grandes contingentes de trabalhadores, para continuar atuando na especulação financeira. Entre dezembro de 1989 e dezembro de 1994, o número total de bancários no país diminuiu de 824.316 para 637.647, segundo dados de um estudo do Dieese divulgado em 1995 a queda de 22,65% no número de empregos do setor foi três vezes maior que o aumento do número de trabalhadores sem carteira assinada no mesmo período, em todo o país (7,1%). As demissões foram mais intensas nos maiores bancos privados: Itaú (52%), Bradesco (42%), Nacional (26%) e Bamerindus (25%). As máquinas substituíram homens e mulheres.
O processo de automação bancária no Brasil deve ser situado no cenário político e econômico em que começou a ser implantado, como costumam indicar vários autores que estudam o tema. A reforma bancária implementada logo após o golpe militar de 1964 é o marco inicial de novas relações internas ao setor financeiro. Sua implantação, nas décadas seguintes, levou à concentralização e centralização do número de instituições e à internacionalização do sistema, como explica Ary Minella em Banqueiros: Organização e Poder Político no Brasil. Entre 1960 e 1980, o número de bancos comerciais no Brasil caiu de 358 para 111. No mesmo período, o número de bancos estrangeiros no país mais que dobrou e também os grandes bancos brasileiros expandiram sua ação para o exterior.
Configurava-se no Brasil uma realidade bastante diferente da do setor bancário nos Estados Unidos. Poucos grandes bancos, com agências distribuídas nacionalmente, passaram a dominar o sistema financeiro brasileiro - nos EUA, cerca de 14 mil bancos distribuem suas agências regionalmente. Esta particularidade permitiu aos "poucos, ricos e poderosos" bancos brasileiros a mobilização de grandes parcelas de capital para desenvolver softwares e hardwares capazes de atender a uma clientela distribuída nacionalmente.
Os bancos buscavam quatro objetivos com a automação, conforme o poderoso presidente da Federação Nacional dos Bancos, Teóphilo de Azeredo Santos: "reduzir custos, melhorar a imagem dos bancos, atrair novos cliente e aumentar a competitividade". Um engenheiro da Society for Wordwide Interbank Financial Telecomunication (SWIFT), num congresso latino-americano sobre automação bancária realizado em 1979, apontou ainda outras três razões estratégicas para a automação: a possibilidade de ampliação do horário de atendimento, soluções para os problemas de espaço e segurança, "em caso de greves ou outras situações críticas, pode-se manter um serviço limitado, ainda se as agências não estiverem operando".
Diferentemente do setor industrial, portanto, o sistema financeiro. brasileiro experimentou um ritmo de automação avançado em comparação com os dos países centrais. Sônia Larangeira divide este processo em quatro fases:
1. Logo após o golpe de 64, os bancos criaram os centros de processamento de dados, com a aquisição de computadores de grande porte.
2. Nos primeiros anos da década de 80, implantaram o sistema on line, conectando as agências em tempo real.
3. A partir de meados da década de 80, investiram na automação de retaguarda, ligando terminais nas agências a um computador central que fornece dados para a rede. Multiplicaram-se os sistemas de auto-atendimento e os cartões eletrônicos.
4. Desde o final dos anos 80, os bancos voltaram-se para a captação e transferência de dados fora das agências, ou seja, nas residências, lojas e escritórios - o home banking.
Em 1988, os 20 maiores bancos brasileiros tinham 133 computadores de grande porta, 1.454 minicomputadores e 11.501 microcomputadores. O maior banco privado, o Bradesco, tinha 29 computadores de grande porte, coordenando uma rede de 552 minicomputadores, 1.186 microcomputadores e 41 mil terminais de caixa. Em 1987, já eram 106 mil os terminais em todo o país. Os maiores bancos do país já haviam distribuído 10.740.000 cartões magnéticos e o número de caixas automáticos chegava a 509 . Os bancos públicos tiveram dificuldades em implantar projetos de automação e perderam espaços no mercado.
Na V Exposição de Equipamentos, Produtos e Serviços de·Automação Bancária, realizada em junho de 1995, os banqueiros contavam como feitas nos caixas eletrônicos apenas 20% dos 700 milhões de operações. A expectativa do setor é alcançar 50% até o ano 2.000, com investimentos que irão ultrapassar os US$ 20 bilhões.
As características e os impactos da automação sobre o setor de serviços ainda não foram suficientemente estudados - principalmente, se comparadas as escassas referências sobre o tema com a já vasta produção a respeito das novas tecnologias na indústria. De forma geral, é possível sintetizar da seguinte maneira os principais impactos dos processos de inovação tecnológica, na vida do trabalhador:
- sobre o emprego, constatando-se a perda de postos de trabalho em diversos níveis de análise (do posto de trabalho à economia global);
- sobre a qualificação da força de trabalho, ora apontando-se sua constante degradação, ora a tendência e/ ou necessidade de requalificação dos trabalhadores;
- sobre a composição da força de trabalho, polarizada entre uma minoria altamente qualificada e uma maioria desqualificada e substituível;
- sobre as relações de poder, alteradas com a eliminação de controles, a diluição da hierarquia e a concessão de um leque predeterminado de opções ao trabalhador;
- sobre os salários, que tendem a achatar-se ou diferenciar-se;
- sobre o ambiente de trabalho, onde surgem novos tipos de agressão à saúde física e mental do trabalhador, apesar de melhorias pontuais exigidas pelos novos equipamentos.
A informatização das atividades bancárias, na avaliação de Nise Jinkings, "diminui o controle da maioria dos trabalhadores sobre sua atividade e dificulta mais ainda sua compreensão a respeito do significado desse trabalho na cadeia produtiva- A automação empobrece ainda mais o trabalho bancário e torna o trabalhador cada vez mais estranho à sua própria atividade produtiva, cada vez com menos domínio sobre o produto do seu trabalho. Ao mesmo tempo, as cisões que marcam a categoria, separando trabalhadores de bancos privados e de bancos estatais, homens e mulheres, implicam numa desidentidade mais aguda em relação aos companheiros de classe social, constituindo-se em obstáculos à apreensão da totalidade da realidade social e, portanto, dificultando o desenvolvimento da consciência política dos ·trabalhadores bancários, afirma Jinkings em seu livro O Mister de Fazer Dinheiro.
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