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Epílogo

Atualizado: 6 de nov. de 2024

Depois de 60 anos, o Sindicato dos Bancários de Florianópolis e Região está diante de desafios inéditos. Representante de uma categoria que cresceu em números absolutos até o final dos anos 80, a entidade pôde transformar-se em uma máquina de ação sindical, suporte para as iniciativas políticas não só dos bancários como de parte significativa das organizações de trabalhadores combativas da Capital e, em certos casos, em todo o estado de Santa Catarina. Mas as transformações no perfil e no volume da categoria estão impondo aos dirigentes e aos bancários a reflexão sobre uma série de assuntos.


Onde foram parar os 186.669 brasileiros que terminaram o ano de 1989 como bancários e, nos anos seguintes, assistiram do lado de fora das agências ao enxugamento do número de postos de trabalho na categoria? Quantos incorporaram-se a novas empresas que foram terceirizadas por seus antigos patrões? Quantos passaram a integrar o exército de reserva, em etapas de desemprego tão funcionais ao sistema? Quantos abriram negócios na economia informal? Ou, numa pergunta: quantos destes foram vítimas do desemprego "estrutural"?



É certo que o número de demissões no setor bancário só não foi maior porque algumas das principais instituições financeiras brasileiras são públicas - e seus trabalhadores gozam de alguma estabilidade, ainda que não formalmente garantida. Os banqueiros assumem como vantagem o fato de que, nos últimos quatro anos, passaram a atender 40% mais clientes com 20% menos pessoal.


Quem resta nas agências ou nas salas de atendimento a clientes VIP precisa mexer em uma matéria-prima ainda menos palpável que as notas que entram e saem da boca do caixa. As informações sobre taxas de juros e negócios com os novos produtos financeiros aparecem nas telas dos computadores a cada segundo. As inovações financeiras e a rápida adoção dos recursos da informática tornaram os bancos ainda mais inexpugnáveis - lhes falta transparência, mas sobram reações emotivas sob a enxurrada de informações.


O reforço no "estranhamento" do trabalho, o enxugamento no número de postos de trabalho,o paradoxo entre a avalanche de informações impossíveis de serem rapidamente processadas e a necessidade de tomar decisões sobre investimentos cada vez mais ágeis - as inovações tecnológicas e organizacionais transformaram o perfil dos bancários como categoria. O movimento sindical, diante de um refluxo na capacidade de mobilização - geralmente identificado com o acréscimo das demissões e da incerteza profissional - tenta reagir da forma como lhe é possível.


Sem fronteiras: Luta pela cidadania e ação cultural levarão os sindicatos para onde?

Os sindicatos de bancários têm procurado apresentar novas reivindicações relativas ao direito ao acompanhamento dos programas de treinamento e alocação de pessoal, à proteção ao emprego, à melhoria das condições de saúde nos ambientes de trabalho e à obtenção de ganhos de produtividade correspondentes à média do setor (12,7% em 1994). Mas não alcançam a mesma capacidade de luta obtida em torno de reivindicações salariais nas discussões com a categoria e com os banqueiros sobre as inovações tecnológicas e organizacionais. A categoria já não tem o mesmo poder de luta de meados dos anos 80, e, o que é mais grave, tende a encolher ainda mais.



Uma pergunta paira no horizonte: Será que os sindicatos se reduzirão a bolhas de reivindicações para segmentos privilegiados da economia formal?


As estratégias para enfrentar estas questões se relacionam com a discussão sobre o papel dos bancos. Os debates sobre a reforma do sistema financeiro nacional, iniciados após a promulgação da Constituição de 1988, capacitaram os dirigentes sindicais a propor um novo modelo - calcado não na especulação financeira, mas no crédito ao desenvolvimento econômico e à melhoria das condições de vida da população.


Bancos de butique não precisam de muitos trabalhadores - nem da economia real, onde se produz o sapato, a geladeira e os Sucrilhos Kellog's. O contrário não é verdadeiro - a economia precisa irrigação periódica de recursos, que exigem trabalhadores capacitados para avaliar um projeto de investimentos ou um pedido de financiamento. Com uma dimensão menos fetichista, o sistema financeiro poderia viver fartamente com taxas de lucro menores, preservar o emprego dos bancários e amparar o surgimento de soluções para os problemas do país.


Mas as respostas sindicais que se opõem ao modelo de sistema financeiro que vem sendo implantado no mundo desde meados dos anos 70 têm sido atropeladas pelo Estado e pelos banqueiros. Tampouco basta propor que os sindicatos atuem como serviços de formação profissional ou restrinjam sua atuação aos problemas da categoria que representam - saídas a que parte do sindicalismo europeu já se conformou. Tais idéias não são apenas inócuas. São também premissas de uma luta inglória e desgastante - que tende a multiplicar a impotência que hoje caracteriza boa parte do movimento sindical no planeta.


A manutenção de iniciativas conjuntas com outras organizações sociais e populares impõe, por seu turno, questões novas e antigas. O que quer dizer, de fato, a cidadania que a CUT quer conquistar? Em que medida as experiências já vividas indicam um rompimento com o economicismo e o corporativismo, que por longo tempo caracterizaram a ação sindical? A máquina sindical constitui a estrutura ideal para dar suporte a estas iniciativas?


O Sindicato dos Bancários de Florianópolis tem, como outras organizações sindicais, plena condição de formular respostas a essas indagações. Nos últimos dez anos, dos quadros da entidade se destacaram muitos dirigentes com capacidade de intervir politicamente nos fóruns nacionais da categoria. A reflexão sobre as experiências vividas neste período será de grande utilidade na superação dos impasses do presente. Mas isto não é tarefa só da direção. O movimento sindical é o resultado das ideias de cada trabalhador, germinadas no calor das fábricas, empresas, agências, escritórios, pontos de venda. Sempre foi assim e, pelo jeito, continuará sendo.

Fotografia de ex-funcionários do Banco Nacional do Comércio, com seis ex presidentes do Sindicato dos Bancários de Florianópolis.


Fileira de cima (da esq. p/ a dir): Rayno tJon Moers, Washington Luiz Pereira, Ademar Gueldner, Abelerda, João Bandeira, Romeu Dominoni, Nereu Andrade, João Mackowiecki, Atherino.


Fileira do meio (da esq.p/ adir): João Cândido Rodrigues, Yoldori Garofalis, Darci Santos, Oldemar Veiga Magalhães, Solon, Vivaldi Garofalis, Peluso, Wilson Andriani, Valdir Kunzer, Jucundino Cordova Wolf, Rubens Lehmkuhl, João Matos, João.


Fileira de baixo (da esq. p/ dir.): Geni Andrade, Inezita Forneroli, Natércia Almeida, Aldo Almeida, Guido Bolet, Orlando Fernandes, Raul Wendhausen, Ivete Eifo da Silveira


Imagem: Arquivo da Família Rodrigues

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